quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Condenado em escândalo de desvio de verbas, Ziraldo se enfurece com discurso de escritor em Frankfurt

Escritor Luiz Rufatto durante discurso em Frankfurt
 Ocartunista Ziraldo, que foi condenado recentemente pela justiça brasileira em rumoroso escândalo desvio de recursos públicos, parece ter boas razões para defender o governo Federal, que gastou mais de R$ 20 milhões para levar uma caravana de 70 escritores brasileiros para a Alemanha, a maioria de desconhecidos do público, classificada pelo escritor Paulo Coelho de <<os amigos dos amigos>>. Ziraldo foi uma das poucas vozes discordante do discurso que marcou a abertura da feira de Frankfurt proferido pelo escritor brasileiro Luiz Ruffato.De acordo com a agência de notícias alemã D.W., durante o enfático discurso do escritor Luiz Ruffato na cerimônia de abertura da Feira de Frankfurt na terça-feira (08/10), já se ouviam comentários cochichados. Suas palavras sobre capitalismo selvagem, desigualdade e injustiça social foram seguidas de aplausos de pé e gritos de “bravo“. Ziraldo levantou-se na cerimônia de abertura e gritou - “Não tem que aplaudir! Que se mude do Brasil, então“.

Mas neste primeiro dia de Brasil como homenageado em Frankfurt, a mostra de aprovação dada imediatamente após o discurso de abertura de Ruffato se confirmou na voz de outros autores. "Faço deles as minhas palavras. Ele fez o que deveria ser feito, só agiu com honestidade e coragem“, disse Paulo Lins, autor de Cidade de Deus. “Mas há gente que quer esconder uma realidade que não pode e não deve mais ser escondida."

Para Sueli Torres, professora brasileira que reside na Alemanha há 26 anos, o discurso só aumentou o clima de festa. “Ruffato fez um resumo da história do Brasil preciso e emocionante da história e da cultura brasileiras. Foi o melhor discurso que já ouvi. Me arrepiei e aplaudi de pé", afirmou.

Michael Kegler, tradutor do português para o alemão que adaptou livros e o polêmico discurso de Ruffatto, disse ter ficado emocionado e ter ouvido apenas críticas e reações positivas de colegas estrangeiros.

"Eu não sou brasileiro, mas acho digno dizer que o Brasil é como ele é. E Ruffato não negou que houve mudanças para melhor", elogiou. "Acho que essa é a qualidade de todas essas vozes da comitiva de autores brasileiros aqui, que falam alto e põem o dedo na ferida. Isso é um novo Brasil, consciente de seus problemas. Já se foram os tempos de ufanismo."

O discurso


Ruffato começou falando do passado brasileiro: "Avoca-se sempre, como signo da tolerância nacional, a chamada democracia racial brasileira [...]. Esse eufemismo, no entanto, serve apenas para acobertar um fato indiscutível: se nossa população é mestiça, deve-se ao cruzamento de homens europeus com mulheres indígenas ou africanas – ou seja, a assimilação se deu através do estupro das nativas negras pelos colonizadores brancos."

E, ao falar do presente, foi aplaudido ainda durante o discurso: "E quem mais está exposto à violência não são os ricos que se enclausuram atrás dos muros altos de condomínios fechados, protegidos por cercas elétricas, segurança privada e vigilância eletrônica, mas os pobres confinados em favelas e bairros de periferia, à mercê de narcotraficantes e policiais corruptos."

E, para o escritor, ainda há muito presente do "legado de 500 anos de desmandos" no país: "Continuamos a ser uma país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direito de todos, mas o privilégio de alguns. [...] Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. [...] Em que estamos acostumados a burlar as leis."
Para fechar, Ruffato destacou o Brasil como um país paradoxal, ora visto como exótico e paradisíaco, ora como um local execrável e violento.

A condenação de Ziraldo


Uma nova decisão da Justiça Federal em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, condenou o cartunista Ziraldo Alves Pinto por improbidade administrativa. Além dele, o ex-prefeito da cidade Paulo Mac Donald Ghisi também foi condenado a ressarcir o município em R$ 200 mil, referentes à organização de eventos culturais na cidade. Cabe recurso ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Ambos foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) pela realização do “Festival Internacional do Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu (Festhumor)”. O evento ocorreu por meio de verba pública cedida, mas sem formalização do contrato administrativo, além de majoração indevida dos custos, segundo o MPF. Ainda de acordo com a denúncia, o cartunista foi beneficiado com a contratação de uma pessoa jurídica administrada por ele.
Ziraldo e Ghisi foram condenados em fevereiro deste ano em ação denunciando o convênio assinado entre a prefeitura de Foz do Iguaçu e a empresa The Raldo Estúdio de Arte e Propaganda, por meio da qual Ziraldo atuou. Conforme o MPF, a empresa teria acordado o valor de R$ 135 mil e cobrado R$ 200 mil. A prefeitura foi denunciada ainda por ter deixado de fazer licitação, bem como de assinar qualquer contrato formal com a The Raldo. O festival, que custou ao todo R$ 221.500,00, foi financiado em R$ 200 mil pelo Ministério do Turismo, ficando apenas R$ 21.500,00 a cargo da prefeitura do município." Ziraldo e Ghisi terão de devolver R$ 65 mil aos cofres de Foz. Ele e o ex-prefeito conseguiram diminuir a condenação anterior, que determinava que ele devolvesse R$ 200 mil.

O caso de Foz do Iguaçu


Em 2003, Ziraldo participou do Festival Internacional de Humor Gráfico de Foz do Iguaçu, aparecendo como presidente de honra do evento. O cartunista também foi responsável pela criação do cartaz do festival, o que lhe rendeu R$ 75 mil - previstos no edital, mediante a cessão perpétua do desenho. Em 2004, representado por uma das organizadoras do evento, Arlete Andrion Bonato, o cartunista registrou o desenho em seu nome no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Inpi). Em sua ação, o Ministério Público Federal denunciava o registro junto ao Inpi, pois ele caracterizaria a intenção de Ziraldo de utilizar a marca comercialmente. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário