terça-feira, 22 de outubro de 2013

O cão me deu boa-noite

Noite, escuro das escuridões,
Barulho lá fora
Pensei ser um cão
Vi isso ao longe naqueles olhos
De antigos brilhos apagados
Que me suplicavam piedade

Pensei ser um cão
Que revirava o lixo
Que comia lixo
E se lambuzava com restos azedos

Pensei ser um cão
Que cheirava e sentia o gosto
Dos pedaços de carnes podres
E roía até os ossos
Daquelas sobras imundas

Cheguei ao portão iluminado
Ele notou-me e se afastou do lixo

Pensei ser ele um cão
Aquele ser roto, torto, quase morto
Que se deitou na calçada fria
A me desejar boa-noite
Pedindo-me desculpas
Por ter se parecido com um cão
Ao me revirar o lixo da rua
Seu prato e refeição de carniça.

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