domingo, 8 de fevereiro de 2015

A greve dos professores e a vadiagem criativa

O lado bom de qualquer greve de professores é que os educandos têm muito tempo livre para a vadiagem produtiva e criativa. Explico: com a greve, certo número reduzido de alunos vai descobrir a biblioteca e outras formas de adquirir conhecimento. Estudei em escola pública do antigo Ginásio até o Superior e não me lembro de ano em que não tivesse pelo menos uma greve - geralmente longa - e também não me recordo de um único benefício decorrente disso em sala de aula. A cada greve, mais a escola se sucateava; mais o ensino se perdia por falta de qualidade, em reposições de aulas nas coxas que não repunham nada.
Agradeço até hoje a alguns dos meus professores por terem me dado a oportunidade de livrar-me de suas aulas tediosas; por eles terem me proporcionado o tempo necessário para desenvolver métodos autodidatas. Sou profundamente agradecido a esses mestres pelas horas que passei com os olhos grudados nos livros sem ter que aturar o que jamais tiveram: talento para o magistério, dom para a arte de ensinar e inteligência para compreender que estavam sendo usados politicamente.
Desde o início da Revolução Industrial sabemos que a greve é um instrumento legítimo de reivindicações do operariado (friso: operariado!). O espírito dos movimentos paredistas é causar prejuízo ao capitalista ou detentor do capital, até que ele se dobre às exigências dos assalariados. Isso funciona muito bem para os operários da indústria. Sem trabalho não há produção, e sem ela não há capital gerado para o patrão por meio da Mais Valia.
Em outros setores, principalmente o de serviços públicos, isso não acontece. Em última análise, no setor público, o empregador é a sociedade, os cidadãos que pagam seus impostos e exigem como retorno serviços de qualidade. No máximo que se alcança, nesses casos, é o desgaste político dos gestores do dinheiro público, sobremodo governadores e prefeitos, além de sério e irrecuperável prejuízo à população.
Dessa forma, na lógica do capital e trabalho, ou nos parâmetros do capitalismo, o modelo grevista dos professores está equivocado, e há muito tempo. Entra ano e sai ano, pouco ou nada se consegue, num perpétuo ciclo que parte do nada para o lugar nenhum, forjando-se pelo caminho lideranças de discursos repetidos, firmados em diagnósticos e soluções improváveis, no uso da categoria para objetivos políticos e partidários, mais nada.
Portanto, caros estudantes, aproveitem o tempo das inconsequentes greves dos professores para a vadiagem, mas que seja uma vadiagem produtiva e criativa, dentro das bibliotecas, nos velhos livros, ou até mesmo buscando conhecimento nesta grande biblioteca virtual que está alcance de todos nós: a nossa magnífica mestra cibernética, a internet, sempre disposta a ensinar com conteúdo e talento.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário