segunda-feira, 27 de abril de 2015

Fumo na borceta

Certas palavras, em português, nascem nome da coisa porquanto deveriam ser geradas como qualidade da coisa. "Paralelepípedo" por exemplo, com sete sílabas já diz que a coisa é feia e pesada. Agora, a palavra "peteca" vem cheia de fofura e maciez, feita de leves plumas e esvoaçantes penas; palavra de alcova, para ser dita entre amantes e, portanto, não é à toa que é sinônimo informal da cuja - feminina e bela.

Outras há que já nascem condenadas pelos hipócritas iletrados por se assemelharem a nomes feios. A palavra "borceta" (ou boceta) é uma delas, talvez uma das mais injustiçadas de nossa língua, que nada mais é do que uma pequena bolsa feita para guardar fumo e que os falsos pudicos a evitam e se afrescalham ao designá-la apenas como "bolsinha de tabaco". Isso dito, não tropece em paralelepípedos linguísticos, pois peteca é uma coisa fofa e comestível dependendo do rijo fumo que você guarda na borceta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário