sexta-feira, 13 de junho de 2014

O vexame de Dilma é o preço da safadeza com o povo


Os imperadores romanos ofereciam circo para a população nos jogos que envolviam muitas vezes lutas de gladiadores e execuções. O espetáculo era digno de nossa barbaridade que, não se engane, ainda mora em nossos espíritos refreada por séculos e séculos de suposta civilização. Mas, de vez em quando o bárbaro que nos habita se revela num linchamento, em crimes passionais e nos atos mais hediondos. Ainda somos feras, domesticadas sim, porém feras, com todas as suas necessidades, como por exemplo, encher os estômagos e ter um lugar seguro para esvaziá-lo, uma moradia -- locus em que o vivente se sinta seguro e tenha a perspectiva de se alimentar nos dias seguintes, a si e aos seus.
Ora, os imperadores sabiam disso, e não temos notícia que algum deles foi vaiado ou hostilizado no Circus, por mais cruel e terrível que fosse o sujeito. Ora, por que não ocorria isso? -- A resposta é simples, eles sabiam da necessidade do povo e nos espetáculos, às vezes com grande antecedência, distribuíam à turba farta ração de pão e até mesmo dinheiro em espécie e do próprio bolso. Ou seja, a satisfação do povo não estava no dantesco espetáculo simplesmente, mas no atendimento às suas necessidades básicas, como nos ensinou o psicólogo norte-americano Maslow em seu trabalho da década de 1960 e que aqui no Brasil ainda não foi compreendido na íntegra pelos governos, quer sejam neoliberais de direita ou de esquerda.
Mesmo com receio, ao ir ao estádio ontem, a breve presidente Dilma ignorou tudo isso e mais um pouco. Iludida pelas estatísticas palacianas e seus mágicos números, ela pensou que apresentar o circo superfaturado seria o suficiente para calar o cidadão, que se endividou mais ainda do que anda endividado para ver o espetáculo cafona, caro e de profundo mau gosto que se apresentava. Eles não estavam lá para agradecer o triste destino dado a seus impostos, mas sim para protestar e dar o destino que julgavam merecido aos que personificaram a roubalheira que se instalou neste país. -- Quem dentre vós que nos prestigia com a leitura deste texto, não tem a nítida impressão e certeza de que a fatura dessas festas nababescas com o dinheiro público nos será cobrada nos próximos anos, e que tudo nos custará o couro e a pele?
Passado o vexame, naturalmente aparecem os ilógicos lambe-botas tentando explicar o fiasco. Para eles, Dilma não merecia tal tratamento, pois ali estavam os escolhidos que pagaram caros ingressos, mas se esquecem a que custo isso foi possível. Ali estava a burguesia, como se eles, os encastelados no poder, proletários fossem. Ali estava a classe média que eles supostamente criaram e portanto, vassala de seus desatinos. Nada disso, ali estava o brasileiro instruído, aquele que frequentou escolas e faculdades e sabe ler a realidade, não eram os bolsistas ou muito menos os dependentes da caridade pública, não eram os sindicalistas, os militantes, a elite funcionária do governo que se empanturram de mordomias e salário fácil para puxar o saco dos governantes. Ali estava o povo que forma sua opinião na internet, faz compras em supermercados e feiras e não se ilude com propagandas a preço de ouro, estatísticas ou pesquisas fabricadas.
Por fim, Dilma ignorou um dos mais antigos adágios -- "Quem quer respeito, há de se dar ao respeito". As vaias e os xingamentos foram pouco para o coração desse povo que tem na Saúde o necrotério, o desrespeito e o descaso com a vida. Foi pouco para essa gente que paga impostos e não vê retorno palpável e útil, a não ser a corrupção, o roubo e safadeza que se alastram em todos os níveis da administração pública. Ao desrespeitar, nosso povo vem dizendo, desde os idos de junho de 2013, que quer ser respeitado e não tratado como massa de manobra e simples "caixa" para pagar a conta de um governo megalomaníaco, improbo e corrupto. Dilma deu o circo para o povo, mas não garantiu o pão, eis a verdade. Fez muito pior, nos tirou a possibilidade de sonhar com o pão de cada dia, mergulhando a nação em imensa insegurança.  



Um comentário:

  1. Texto perfeito! É exatamente assim, amigo José Fernando! Chegamos ao limite extremo da tolerância. Daqui pra frente, prepare-se a senhora presidenta...

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