Escrevo num domingo quase-Inverno de 2014 e, infelizmente, imerso na distância de quilômetros que me separa do mar. O mar que supunha somente português. Mas, por sorte, tenho em mãos os versos de Félix Coronel, esse grande tradutor argentino que aqui resolveu fazer morada e nos presentear com o seu livro “Guaratubanas”, coleção de poemas bi ou trilíngues – nas duas mais belas línguas nascidas do Lácio, o espanhol e o português, acrescidas de maior beleza ainda, juntadas ao guarani.
Todo descente dos habitantes da Península Ibérica, mesmo que more afastado do litoral, tem em suas veias o sal das lágrimas do Atlântico. E o nosso poeta litorâneo, ao descrevê-lo, ao senti-lo mesmo, assume em seu coração, com lirismo ímpar, o espírito dos que tinham os olhos nos céus para orientação e aqui aportaram, como no haikai:
“Entre nuvens de renda
Lua Brincalhona
O Mar infinito espelho”
Ora, que Mar é esse que se espelha a Lua brincalhona entre nuvens de renda? – O mar de Guaratuba, o mar da baía de Guaratuba, o mar ibérico, o mar de nossos índios ancestrais. Eis, pois, a magia dos versos de Félix, que se utiliza da suposta simplicidade do haikai, para descrever para nós e para os falantes do espanhol, a singularidade de um pedacinho do céu do hemisfério Sul:
“Entre nubes de encaje
Luna juguetona
El Mar, infinito espejo”
Félix vai além, e demonstra em seus versos, sem delongas teóricas, o feliz encontro das línguas de Cervantes e Camões com a de nossos bravos guaranis:
“Pitangueira carregada
Janela ao mar –
Fugi com um beija-flor”
Ou:
“Nangapiry cargado
Ventana al mar
Hui con un colibri”
Sim, pela janela fogem os versos do Poeta de Guaratuba para alcançar nossos ouvidos por trás das serras, pelos planaltos, pelos continentes todos.
Portanto, vós que pensais ser a poesia coisa esgotada, prestai atenção aos versos desse bardo que se cobre de finas brisas e por elas é soprado. Há no seu canto um novo apelo poético, uma nova dimensão no ato de se fazer poesia, como se vê em largo horizonte, quando se mira o mar num dia de Verão; e não só nos haicais bem medidos, mas, em todas as formas, sua soberba luz poética se nos oferecem sem limites, como é seu desejo expresso:
“Desejo não ter limites,
nem leis que me amarrem
Porque, quando eu renascer
das penumbras do meu ocaso
Viverei com mais risco.
Cruzarei mais fronteiras
Andarei sob a chuva, na praia e na mata
Lembrando de um beijo roubado
Ou talvez de uma ingênua
promessa de amor.
Sentirei o prazer do arrepio,
Ao lembrar do teu rosto
E olharei além do horizonte
E então sorverei o vento e o frio
Como quero ver a quantos desafio!”
Ou:
Deseo no tener límites,
ni leyes que me amarren
Porque, cuando yo renazca
de las penumbras de mi ocaso
Viviré con más riesgo.
Cruzaré más fronteras
Andaré bajo la lluvia, en la playa y en la selva
Recordando un beso robado
O tal vez una ingenua
promesa de amor.
Sentiré el placer del cálido escalofrío,
Al recordar tu rostro
Y miraré más allá del horizonte
Y beberé a sorbos el viento y el frío
¡Como quiero ver a cuántos desafío!
Feliz é Guaratuba, mais felizes somos nós, que podemos ver em plenitude o poeta indo além de si, a nos dar notícias de como o vento saúda a poesia que vem das estrelas, varre a baía e banha o mundo. Mais do que isso, “Guaratubanas” é a brisa poética que nos refresca pela janela de nossos corações; um livro para ser lido, relido, pois está nele a alma de nossos povos, a essência de nossos ancestrais e que se demonstra em nosso dia-a-dia e não nos damos conta. “Garatubanas” traduz nas letras nossa constituição – o amor torrencial dos latinos e a plácida ternura dos povos nativos.
Todo descente dos habitantes da Península Ibérica, mesmo que more afastado do litoral, tem em suas veias o sal das lágrimas do Atlântico. E o nosso poeta litorâneo, ao descrevê-lo, ao senti-lo mesmo, assume em seu coração, com lirismo ímpar, o espírito dos que tinham os olhos nos céus para orientação e aqui aportaram, como no haikai:
“Entre nuvens de renda
Lua Brincalhona
O Mar infinito espelho”
Ora, que Mar é esse que se espelha a Lua brincalhona entre nuvens de renda? – O mar de Guaratuba, o mar da baía de Guaratuba, o mar ibérico, o mar de nossos índios ancestrais. Eis, pois, a magia dos versos de Félix, que se utiliza da suposta simplicidade do haikai, para descrever para nós e para os falantes do espanhol, a singularidade de um pedacinho do céu do hemisfério Sul:
“Entre nubes de encaje
Luna juguetona
El Mar, infinito espejo”
Félix vai além, e demonstra em seus versos, sem delongas teóricas, o feliz encontro das línguas de Cervantes e Camões com a de nossos bravos guaranis:
“Pitangueira carregada
Janela ao mar –
Fugi com um beija-flor”
Ou:
“Nangapiry cargado
Ventana al mar
Hui con un colibri”
Sim, pela janela fogem os versos do Poeta de Guaratuba para alcançar nossos ouvidos por trás das serras, pelos planaltos, pelos continentes todos.
Portanto, vós que pensais ser a poesia coisa esgotada, prestai atenção aos versos desse bardo que se cobre de finas brisas e por elas é soprado. Há no seu canto um novo apelo poético, uma nova dimensão no ato de se fazer poesia, como se vê em largo horizonte, quando se mira o mar num dia de Verão; e não só nos haicais bem medidos, mas, em todas as formas, sua soberba luz poética se nos oferecem sem limites, como é seu desejo expresso:
“Desejo não ter limites,
nem leis que me amarrem
Porque, quando eu renascer
das penumbras do meu ocaso
Viverei com mais risco.
Cruzarei mais fronteiras
Andarei sob a chuva, na praia e na mata
Lembrando de um beijo roubado
Ou talvez de uma ingênua
promessa de amor.
Sentirei o prazer do arrepio,
Ao lembrar do teu rosto
E olharei além do horizonte
E então sorverei o vento e o frio
Como quero ver a quantos desafio!”
Ou:
Deseo no tener límites,
ni leyes que me amarren
Porque, cuando yo renazca
de las penumbras de mi ocaso
Viviré con más riesgo.
Cruzaré más fronteras
Andaré bajo la lluvia, en la playa y en la selva
Recordando un beso robado
O tal vez una ingenua
promesa de amor.
Sentiré el placer del cálido escalofrío,
Al recordar tu rostro
Y miraré más allá del horizonte
Y beberé a sorbos el viento y el frío
¡Como quiero ver a cuántos desafío!
Feliz é Guaratuba, mais felizes somos nós, que podemos ver em plenitude o poeta indo além de si, a nos dar notícias de como o vento saúda a poesia que vem das estrelas, varre a baía e banha o mundo. Mais do que isso, “Guaratubanas” é a brisa poética que nos refresca pela janela de nossos corações; um livro para ser lido, relido, pois está nele a alma de nossos povos, a essência de nossos ancestrais e que se demonstra em nosso dia-a-dia e não nos damos conta. “Garatubanas” traduz nas letras nossa constituição – o amor torrencial dos latinos e a plácida ternura dos povos nativos.